sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A febre, o delírio e a alucinação das esplanadas

Vivo no Bairro Alto desde 1976 e em 2002, quando a EMEL assumiu o controlo do espaço de estacionamento na zona, comecei a ser multado. Na rua onde vivo, existe um muro a todo o comprimento da mesma, sem janelas nem portas, mas a EMEL só marcou 4 lugares em vez de 12. Para evitar multas e neuroses, vou estacionar em Sete Rios e na Graça, onde a EMEL ainda não chegou. Isto explica que não estou de acordo mas sou obrigado a aceitar o que a EMEL faz no Bairro Alto. Há dias a Polícia Municipal rebocou uma viatura estacionada num lugar gerido pela EMEL. Mas se desde 2002 existem espaços marcados na zona pela entidade responsável, pode parecer estranho que só em 2012 apareça uma reclamação. E logo dirigida à entidade errada: PM em vez de EMEL. E logo resolvida da pior maneira: multar o morador que estacionou legalmente. Mas nada é estranho no Bairro Alto. O que se passa é uma febre, um delírio e uma alucinação colectiva pois qualquer comerciante aspira a ter a sua esplanada. Não interessa à custa de quê. Pode até ser à custa de um lugar de estacionamento gerido pela EMEL. Ganhar dinheiro custe o que custar e doa a quem doer, é mais importante do que tudo o resto. O espírito de favela está a ser imposto aos poucos. Minutos depois de o morador ter sido multado já as mesas da esplanada estavam colocadas no espaço gerido pela EMEL. E bastaria a PM ter contactado a Junta de Freguesia para saber da ilegalidade da esplanada. A PM não pode tomar partido contra os moradores. A vida não é um negócio e vale mais que um negócio. Não conta a desculpa esfarrapada «estava muito perto da porta» porque esse é um assunto da EMEL e desde 2002 ninguém se queixou dessa proximidade. Na febre da esplanada uma conclusão: quando a Municipal bate na Municipal quem se lixa é o mexilhão. O morador.

José do Carmo Francisco        
(Vinte Linhas 833)

3 de Maio de 2012: um lugar de estacionamento numa zona de acesso condicionado no Bairro Alto, que pertencia à Junta de Freguesia da Encarnação, eliminado por pilaretes colocados pelo restaurante.

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