segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Poema para os 500 anos do Bairro Alto

Poema para os 500 anos do Bairro Alto

Bairro Alto não tem becos; só travessas
E ruas que são grandes como artérias
Mais igrejas onde orações e promessas
São a resposta às desgraças e misérias.
Rua da Rosa onde um dia nasceu Camilo 
Onde Nemésio teve quarto, era aspirante
Primeiro jornal onde a palavra era o estilo
Primeiro livro que hoje vejo tão distante.
Neste tempo há facadas só nos talhos
Continuam os lugares e as padarias
No mapa dos sonhos e dos trabalhos
Cartografamos as lágrimas e alegrias.
Que S. Roque nos proteja da ganância 
Já que da Vereação nada se espera
Que Inverno perca força, importância
Que venha a luz e o sol da Primavera.

José do Carmo Francisco 

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Carta da AMBA ao Vereador sobre a Rua Nova do Carvalho (Cais do Sodré)

Exmo. Senhor Vereador do Ambiente,
Dr. José Sá Fernandes
 
Chegou ao conhecimento da AMBA, através da imprensa (Notícia do Público de ) que existe um projecto  para a Rua Nova do Carvalho, numa parceria conjunta do Pelouro do Ambiente com os donos dos bares e discotecas do Cais do Sodré, de( re) pintura definitiva da rua em ROSA e colocação de Muppies na via pública.
A CML decide , assim, consagrar uma via pública para o consumo de álcool,  sem que os residentes sejam ouvidos nem achados.
De forma algo insólita, a CML, optou por não publicitar este projecto junto dos principais “beneficiários” da pedonalização da rua: os moradores do bairro.
Tanto mais insólito, porquanto os representantes dos moradores do Bairro Alto e Cais do Sodré participaram, até ao mês de Julho passado, num Grupo de Trabalho sobre os problemas da animação nocturna nestes Bairros, sob a orientação do Senhor Vereador do Ambiente, Dr José Sá Fernandes.
Nunca, durante os oito meses que duraram as reuniões de trabalho conjuntas, entre os representantes dos bares e discotecas, os representantes dos moradores e o Senhor Vereador do Ambiente, foi sequer mencionada a existência de um Projecto em curso para a Rua Nova do Carvalho.

RUA COR DE ROSA, QUASE DOIS ANOS DEPOIS
PESADELO COR DE ROSA…
Um bairro onde os bares e festas de rua são uma fonte permanente de ruído que impede os moradores de dormir. Onde as ruas são um vazadouro de copos de plástico e garrafas de cerveja. Onde os transumantes noctívagos deixam um rasto de grafittis e vandalismo. Onde um passeio matinal com os filhos é pretexto para sentir o cheiro omnipresente a urina ou encontrar um sobrevivente da noite anterior nas entradas dos prédios a fazer as suas necessidades.

Faz em breve dois anos que se davam as últimas pinceladas no novo ex-libris de Lisboa, a então recém apelidada “Rua Cor de Rosa”. Corria o dia 6 de Dezembro de 2011, e o cenário que então se pinta nos media é uma extensão da rua. Todo ele cor-de-rosa.

Tratava-se de uma estratégia de reabilitação da zona do Cais do Sodré. De um espaço aglutinador de empresários, sobretudo da área criativa. De um melting pot de criatividade e ideias. São novas pessoas. novas ideias. novos hábitos. Uma nova forma de estar nesta zona de Lisboa. É, enfim, a renovação da principal rua de bares do Cais do Sodré. Pois convém lembrar que, acima de tudo, é disso que se trata. Novos bares.  

No Cais do Sodré  a regra é conceder licenças aos frequentes “eventos culturais”, patrocionados por marcas de bebidas espirituosas, «  animações de rua » com colunas de som a debitar décibeis infernais.
Para já, o resultado desta “estratégia de reabilitação do Cais do Sodré”, que “revitaliza” o bairro à custa dos seus moradores, está à vista. Elevada concentração de novos bares e discotecas, com difusão de música para o exterior. Estabelecimentos sobrelotados, atraindo multidões que consomem álcool e estupefacientes na via pública até bem depois do nascer do dia e se aliviam onde quer que estejam. Vandalismo de viaturas, bens patrimoniais e equipamentos públicos. Toda a espécie de dejectos e vidros atirados para as ruas. Ruído em excesso durante toda a noite, desacatos e distúrbios constantes.

UM NOVO EQUILÍBRIO E SUSTENTABILIDADE DO DESÍGNIO TURÍSTICO DE LISBOA
Urge contrariar a concepção de que a « animação nocturna » se traduz numa « revitalização do Centro Histórico »,  através do desenvolvimento turístico e da criação de riqueza e postos de trabalho. Na verdade, assiste-se a uma degradação ambiental  urbana, na medida em que as pessoas simplesmente desistem de morar no centro da cidade, por exaustão, porque deixaram de dormir devido ao excesso de ruído dos bares e pelos frequentadores que fazem da via pública uma extensão dos bares .As pessoas deixam de recuperar o património imobiliário.

É tempo de pugnar por um desenvolvimento equilibrado nos núcleos históricos, garantindo a adopção de condutas social e ambientalmente responsáveis, por parte dos agentes envolvidos na actividade económica e turística,  como condição imprescindível para se conseguir alcançar uma imagem de marca turística diferenciada e valorizada,
Senhor Vereador do Ambiente, como bem sabe, mas nunca será demais recordar, desde o ano de 2008 que a Provedoria de Justiça vem preconizando a necessidade de  aprovação de regulamentação municipal que salvaguarde o bem-estar e a qualidade de vida dos moradores do Bairro Alto. Mais recentemente, voltou a invocar essa necessidade com os problemas vividos no Cais do Sodré, nomeadamente, através de:

1)    Horários de encerramento comuns aos estabelecimentos, até às 02h00 da madrugada
2)    Restrição do consumo de bebidas na via pública
3)    Interdição do funcionamento dos estabelecimentos que difundem música, de portas e janelas abertas para a rua
4)    Encerramento dos estabelecimentos, alvo de reclamaçâo dos moradores, sempre que se verifique que os mesmos mantêm funcionamento em infracção aos requesitos de abertura ao público


Face ao exposto, solicitamos a V. Exa, com a máxima urgência, sejamos informados sobre

·         O conteúdo do Projecto para a Rua Nova do Carvalho;

·         a razão pela qual foram os moradores excluidos da participação num projecto para uma rua do seu Bairro
       
A AMBA como parte activa e participativa das reuniões do Grupo de Trabalho havidas ao longo dos últimos meses ,face a esta situação, questiona se não haverá mais projectos em curso, nomeadamente projectos de animação nocturna em zonas da futura freguesia da Misericórdia  em que os moradores não foram e não são ouvidos ?
Com os melhores cumprimentos,
A Direcção da AMBA

Luís Paisana

(Presidente)

segunda-feira, 25 de março de 2013

Bairro Alto a perder também os alfarrabistas


Bairro Alto a perder também os alfarrabistas

Barulho excessivo, ilegalidades óbvias, lixo nos passeios, urina nas portas das casas e dos automóveis, um misto de favela brasileira e de bairro tailandês pobre com os «tuc tuc» mas sem as meninas de 12 anos - é este um dos retratos do Bairro Alto actual. Porque há mais: o trânsito caótico com multas para os moradores e «olhos fechados» para os visitantes que muitas vezes fecham as saídas do Bairro. Qualquer «chico-esperto» contrata músicos amadores que tocam de porta aberta para a rua onde rapazes orientais vendem garrafas de cerveja a um euro a unidade. Como os bares não têm o seu WC pois são do tamanho dos WC a solução para os barulhentos visitantes é usar a rua como WC. Há uma esquadra da PSP dentro do perímetro do Bairro Alto mas não se nota grande diferença para o panorama anterior e além disso a Polícia Municipal fica muito longe daqui - em todos os aspectos. Agora temos no Bairro uma mudança para pior: estão a fechar os nossos alfarrabistas. Primeiro foi a Barateira, depois foi a Camões, antes tinha sido a Bocage e agora há pouco tempo foi a Biblarte. Esta em São Pedro de Alcântara nem o Fernando Pessoa a pôde salvar. Já tínhamos tido os jornais a acabar (Popular, Lisboa, República, O Século, A Capital, Gazeta dos Desportos), um outro a ir-se embora do Bairro (Record) e apenas outro a resistir ainda - A BOLA.

Há quem tenha esperanças no espírito de regeneração do Bairro Alto, na sua capacidade de se adaptar a novas situações adversas mas eu não esqueço que o grande Camilo Castelo Branco nasceu na Rua da Rosa em 1825. A mim quem me tira o papel tira-me a vida. Agora já dizem que em Agosto saem os dois alfarrabistas do Largo da Misericórdia. Se assim acontecer ainda vai ser pior. Porque os alfarrabistas não são apenas nossos, são de toda a agente.
José do Carmo Francisco